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Ser normal nem sempre é bom

  • Foto do escritor: Thassio Queiroz
    Thassio Queiroz
  • 23 de jun. de 2024
  • 3 min de leitura



Na nossa cultura, há uma preocupação frequente em "ser normal", ou "parecer normal", ao mesmo tempo em que se evita qualquer coisa que possa indicar um desvio da normalidade. Em alguns contextos, é importante estar dentro da normalidade. Por exemplo, se você faz exames de sangue, é desejável que os resultados não indiquem nada de anormal, pois, nesse contexto, a anormalidade pode significar algo maligno ou preocupante. Mas nem sempre é o caso. Mesmo na Medicina, nem tudo o que foge da normalidade é necessariamente patológico ou maligno. Podemos citar a polidactilia como exemplo. Trata-se de uma condição em que a pessoa nasce com um dedo a mais em uma das mãos ou pés. Isso está fora do normal, mas não representa um problema.


O conceito de "normal" é utilizado pela Estatística para se referir àquilo que pertence à norma, ou seja, à média. Nas palavras de Aldous Huxley, "A normalidade é tão-somente uma questão de estatística". Só que estar na norma nem sempre é uma realidade. E, muitas vezes, pode até ser indesejável. Em 2018, o jornal El País publicou um artigo intitulado: "Todos somos esquisitos: cientistas de Yale confirmam que a pessoa normal só existe nas estatísticas - O indivíduo médio serve para identificar as características mais frequentes, mas não é de carne e osso". Esse estudo confirma que uma pessoa totalmente "normal" é apenas uma abstração. As pessoas reais desviam, em vários aspectos, da normalidade. E é importante que seja assim. Um mundo onde todos fossem "normais" seria um mundo homogêneo, previsível e monótono. O que torna as pessoas interessantes é sua singularidade, que muitas vezes escapa do que é tido como "normal". Ao passo que a aproximação do normal pode nos distanciar de quem somos. Carl Jung já dizia: "Todos nascemos originais e morremos cópias."


No âmbito da saúde mental e da subjetividade, o conceito de normalidade é impreciso, discutível e impossível de ser estabelecido de forma definitiva. Mais do que isso, é importante salientar que aquilo que uma cultura determina como normal não necessariamente é bom ou melhor. Em uma sociedade autoritária, por exemplo, uma pessoa que não se submete a uma autoridade tirânica pode ser considerada anormal. Mas rebelar-se seria a reação mais natural e desejável diante de uma injustiça! Como sabiamente disse Krishnamurti, "Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente." A partir desse pensamento, podemos introduzir o conceito de "normose", que foi criado por Jean-Yves Leloup e Roberto Crema, para se referir à "patologia da normalidade", ou seja, a pensamentos e comportamentos que são nocivos em essência, embora considerados normais pela cultura em que um indivíduo se insere. Os autores citam como exemplos de normoses o consumismo, o alcoolismo e o tabagismo e as guerras. Poderíamos acrescentar muitos outros exemplos, como o trabalho excessivo, a falta de descanso e "ócio", ou o consumo de alimentos industrializados.


Seguir o que nossa cultura preconiza como "normal" resulta, quase que certamente, em adoecimento. Estar em constante pressa, viver em função do trabalho, sem descanso ou lazer adequados, ser obcecado com a própria aparência, passar horas por dia diante de telas, aderir à dinâmica das redes sociais, comprar tudo que a publicidade nos diz que precisamos, consumir alimentos ultraprocessados, trocar as experiências reais pelas virtuais... certamente não é um estilo de vida que favorece a saúde. E, se adoecemos, sequer conseguimos identificar de onde vem a doença, pois não estamos fazendo "nada fora do normal". E talvez seja justamente esse o problema. Em uma sociedade adoecedora como a nossa, sair do normal é uma questão de necessidade. E, para isso, é necessário um esforço ativo, de "remar contra a maré". Desfazer certos conceitos e hábitos, descobrir modos mais saudáveis de se viver, são medidas indispensáveis para quem não quer sucumbir à normose em que vivemos. Por isso, em nome da sua singularidade e da sua saúde, atreva-se a ser anormal!

 
 

Thassio Queiroz de Araújo       CRP 01 - 21750        (61) 9633 0368

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