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Crises são necessariamente ruins?

  • Foto do escritor: Thassio Queiroz
    Thassio Queiroz
  • 19 de out. de 2023
  • 3 min de leitura


Crises são períodos indesejáveis e também inevitáveis na vida de qualquer pessoa. Algumas delas são mais graves e requerem uma intervenção imediata, como as que ameaçam a subsistência e a integridade (física ou mental) de alguém. Trata-se de situações emergenciais. Mas há também aquelas que têm a ver com um conflito (interno ou interpessoal) de difícil solução, que nos obriga a encontrar uma saída que nos demanda recursos de que, muitas vezes, ainda não dispomos. Poderíamos dizer, portanto, que essas crises nos obrigam a sair de um ponto e chegar a outro. Elas chamam a atenção para algo que precisa ser aprendido, modificado ou realizado. A solução da crise se dá no próprio processo de mudança de alguma coisa em nós. É desse tipo de crise que este artigo trata.


Muito já foi dito sobre o potencial construtivo das crises, que podem ser significadas não como um mero infortúnio, mas como uma possibilidade de crescimento e amadurecimento. Há uma citação atribuída ao célebre poeta romano Ovídio que diz: “Receba bem esta dor, pois um dia ela lhe será útil”. Michelangelo também expressou uma perspectiva semelhante, quando disse que “Muito ganha aquele que aprende quando perde.” Podemos aprender, portanto, a nos perguntarmos, em momentos de crise: “O que essa crise vai me ensinar?” Isso significa colocar a ênfase da crise em outro ponto, que não da lamentação ou da resistência. Em uma cena do filme “O Mínimo Para Viver (To The Bone, 2017)”, um personagem afirma: “Coisas ruins vão acontecer. Isso não é negociável. O que é, é como você lida com isso.” Portanto, nosso poder não está necessariamente em evitar as crises, mas em como reagimos a elas.


Encarando as crises assim, podemos desenvolver uma forma mais madura de lidar com a vida, entendendo que nem tudo está sob o nosso poder e aceitando as limitações das nossas escolhas – e identificando possibilidades de escolha em situações onde nos críamos impotentes. O filósofo Alain de Botton diz que “A maturidade significa, de fato: não se surpreender e manter-se sereno face à dor e à decepção”. De fato, se sabemos que eventos dolorosos e indesejáveis acontecerão, não deveríamos reagir com surpresa ou indignação a esse fato. Também podemos considerar a contribuição que as desventuras que nos aconteceram tiveram na formação de quem somos. Uma frase cujo autor é desconhecido diz que “Qualquer pessoa que já cresceu mentalmente, fisicamente ou espiritualmente sabe que o crescimento não é encontrado no conforto.” Assim, se as crises virão, por mais que não as desejemos, elas não precisam ser vistas como coisas inteiramente ruins, mas como um fato da vida. A vida é assim. E nem sempre o que a vida é nos agrada. Aceitar isso, ao invés de lutar inutilmente contra, é parte da arte de viver. Se não gostamos do processo – com razão –, podemos procurar nos ater ao resultado. O que você ganhou com suas crises?


A título de ilustração, consideremos que uma crise em um relacionamento pode ser dolorosa, mas pode ser o que leva uma pessoa a perceber que esse relacionamento se mantinha a partir de uma dinâmica disfuncional e a decidir romper a relação. Ao fazer isso, essa pessoa provavelmente se sentirá aliviada e pode optar por uma relação mais saudável. Isso dificilmente aconteceria (ou levaria muito mais tempo) se a relação não tivesse chegado a uma crise. Não é raro que algumas pessoas passem a bendizer as crises que atravessaram ao perceberem os resultados que elas trouxeram.


Por fim, é importante esclarecer que não se trata de uma “romantização” do sofrimento, mas da compreensão de que ele faz parte da vida. Embora não saibamos quando, como ou quantas vezes ele virá, devemos espera-lo em alguma medida. Isso não significa, também, “cruzar os braços” diante dele. Pelo contrário. É importante buscar uma solução. E esse processo se torna mais fácil se não ficarmos presos à queixa e ao inconformismo com as infelicidades que se abatem sobre nós. A simples mudança na forma de lidar com o sofrimento já pode alivia-lo significativamente, o que revela o quanto contribuímos para a sua intensidade. Aceitando as crises como fato, podemos nos sentir menos injustiçados pela vida, e evitamos o sentimento de culpa por um suposto fracasso (sobre isso, leia o artigo “Precisamos estar sempre felizes?”). Se você sente que está atravessando um momento de crise e está tendo dificuldade de lidar com ele sozinho, pode ser a hora de procurar um profissional para te ajudar na travessia desse processo.

 
 

Thassio Queiroz de Araújo       CRP 01 - 21750        (61) 9633 0368

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