Precisamos estar sempre felizes?
- Thassio Queiroz
- 27 de jun. de 2023
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A pergunta deste artigo tem uma justificativa simples: vivemos em uma cultura em que a felicidade é colocada não apenas como um direito, mas também como um dever. Desse modo, não precisaríamos estar sempre felizes porque queremos, mas porque nos sentimos socialmente constrangidos a sermos felizes o tempo todo.
É disso que o pensador francês Pascal Bruckner fala em seu livro A Euforia Perpétua - Ensaios Sobre o Dever de Felicidade. Nele, o autor discorre sobre as mutações do sentido da felicidade ao longo da História, culminando na contemporaneidade, onde ela se tornou um imperativo, instaurando uma verdadeira tirania da felicidade. Na nossa cultura, a felicidade se converteu no grande objetivo da vida, e seria alcançada a partir de um roteiro bem definido, traduzido em bem-estar material (frequentemente associado a signos do consumo), boa forma física e sucesso na vida profissional, na amorosa e na familiar. É uma cultura que exalta a busca incessante pelo prazer e nega o sofrimento, o que contribui para uma intolerância à frustração. Não sermos pessoas felizes corresponderia a um fracasso pessoal, sendo motivo de vergonha. Daí Bruckner afirmar que "nós construímos provavelmente as primeiras sociedades da história a tornar as pessoas infelizes por não serem felizes."
O paradoxo contido nesse imperativo social é que ele exige que estejamos sempre felizes, mas não é possível se estar feliz sempre. Assim, há uma sentimento generalizado de fracasso pessoal nos indivíduos ao se reconhecerem como pessoas não plenamente felizes em uma sociedade onde todos parecem (pois assim se exibem) felizes. A cultura da "euforia perpétua" ignora o fato de que não só a felicidade faz parte da vida, mas também a infelicidade e o fracasso. A crença de que haveria algo de errado consigo por não se ser feliz o tempo todo é enganosa, e conduz a um sentimento de frustração e contribui para a medicalização excessiva da vida. É natural passar por momentos de insatisfação e de fracassos, assim como ficar triste com o fim de um relacionamento, com a perda de um ente querido ou de um animal de estimação. Tais acontecimentos são parte integrante da vida.
A felicidade, naturalmente, não é algo ruim ou indesejável. O problema reside no fato de se acreditar que a felicidade deve ser ininterrupta, e que não alcançar esse ideal seria um sinal de fracasso. A psicoterapia é um espaço onde se pode falar sobre a infelicidade e o sofrimento, com o objetivo de obter alívio e solucionar problemas, não de alcançar um estado de felicidade plena. Poder viver momentos de felicidade sem que ela seja uma obrigação, assim como os de infelicidade sem que ela signifique um fracasso, eis o objetivo da terapia.