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Você não é o seu sintoma

  • Foto do escritor: Thassio Queiroz
    Thassio Queiroz
  • 21 de jul.
  • 3 min de leitura
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Na área da Saúde, há um risco muito conhecido por boa parte dos profissionais, no qual muitos deles - e também muitos pacientes - incorrem: o do reducionismo. Trata-se, como o nome sugere, de reduzir o paciente a alguma dimensão da sua vida ou ao seu sintoma, ignorando a complexidade de cada um, e a multifatorialidade da maioria dos quadros de adoecimento. Atualmente, na Saúde, entende-se o ser humano como um ser "biopsicossocial". Ou seja: ele é composto pelas dimensões biológica, psicológica e social, sendo uma unidade formada por essas três dimensões de forma indissociável. O reducionismo seria enxergar uma pessoa em uma ou duas dessas dimensões, apenas. Por exemplo: achar que as causas de um adoecimento são exclusivamente biológicas ou psicológicas. Ou considerar a biologia e a psicologia no adoecimento de alguém mas ignorar os fatores sociais (por exemplo: pobreza, solidão, cobranças no trabalho...).


A partir de um olhar reducionista, alguns profissionais só enxergam e só tratam o sintoma. Mesmo em situações muito objetivas, como no caso de uma infecção (em que, muitas vezes, basta erradicar o patógeno com uma medicação, ou aliviar os sintomas enquanto o sistema imunológico cuida do problema), ou ainda, no caso de algo mais localizado, como uma doença de pele, é a pessoa como um todo que é afetada, e é ela que busca e se apresenta para um tratamento, não um órgão do seu corpo. O risco do reducionismo é maior em atendimentos especializados, como em especialidades médicas ou na terapia sexual. E, como mencionado anteriormente, nem sempre é o profissional que incorre nele; pode ser o próprio paciente, que acredita que é necessário abordar apenas o sintoma para resolvê-lo.


No âmbito da saúde mental, é comum que os pacientes considerem seus sintomas como algo que os "tomou"; algo externo a eles, que eles não "tinham", e agora "têm". Daí se dizer, por exemplo: "tenho ansiedade / disfunção erétil / TDAH / depressão". A própria linguagem contribui para pensarmos dessa forma. Muitas vezes, esse pensamento convém ao paciente. Se o que está sendo tratado é o sintoma, ele não precisa se implicar naquilo. Pode simplesmente acreditar que não tem nada a ver com aquilo. O profissional que resolva por ele! Seria ótimo se fosse assim tão simples, mas, infelizmente, não é o caso. O sintoma não é algo externo ao paciente. É algo dele, e que só faz sentido dentro da vida dele. Ainda que se trate de um mesmo diagnóstico, o adoecimento de uma pessoa nunca é igual ao de outra. Para cada uma, o processo e o sentido do adoecimento são únicos. É por isso que a psicoterapia é um processo individual (embora existam também processos psicoterapêuticos de grupo, eles não são indicados para todos os casos e nem sempre são suficientes). Se não fosse necessário tratar cada um em sua singularidade, bastaria que cada paciente lesse um manual e aplicasse uma "receita", ou uma fórmula. Aliás, elas são vendidas aos montes hoje em dia...


Na Psicanálise, entendemos que estamos sempre diante de um sujeito, não apenas de um sintoma. Quem adoece é a pessoa, e a terapia é sobre ela, portanto. O sintoma é entendido como uma mensagem, não um mero "estorvo" a ser removido para que, assim, a pessoa possa voltar a viver exatamente como antes. A superação do sintoma se dá por meio de uma transformação subjetiva. Algo na pessoa precisa mudar para que o sintoma não precise mais existir. Mas a mudança fundamental é na pessoa. Por isso, um tratamento psicoterapêutico não pode permitir que o sintoma seja protagonista; a parte mais importante é a pessoa que padece daquele sintoma, e que existe para além - muito além - dele.


 
 

Thassio Queiroz de Araújo       CRP 01 - 21750        (61) 9633 0368

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