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O renascimento psicodélico na saúde mental

  • Foto do escritor: Thassio Queiroz
    Thassio Queiroz
  • 23 de mai. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 12 de ago. de 2024


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Desde os últimos anos, os tratamentos de transtornos mentais estão experimentando uma revolução. Isso porque a descoberta do potencial terapêutico de algumas substâncias - algumas delas marginalizadas como "drogas" - tem impulsionado pesquisas no mundo todo, cujos resultados são surpreendentes e promissores, sobretudo na cura de quadros (por exemplo, de depressão, ansiedade, estresse pós-traumático e vícios) que não respondem aos tratamentos convencionais. Esse momento está sendo chamado por alguns especialistas de "renascimento psicodélico". E por que re-nascimento? Porque o "nascimento" se deu bem antes: na segunda metade do século XX, alguns cientistas já pesquisavam o uso terapêutico de algumas substâncias, principalmente o LSD. Por algumas décadas, era permitido o uso dessas substâncias para fins terapêuticos. Todavia, devido a uma política de combate às drogas, tais substâncias passaram a ser proibidas, mesmo para fins de pesquisa científica e em ambientes controlados para uso terapêutico. Houve, então, um período de "adormecimento" dessas pesquisas, que está se encerrando agora, em um período em que o mundo se vê carente de recursos eficazes para tratar alguns quadros graves de saúde mental.


É importante destacar que muitas dessas substâncias que hoje são utilizadas para curar feridas psicológicas profundas são usadas há milênios por alguns povos que adotam práticas xamânicas. Para esses povos, o que é uma grande descoberta para as sociedades industriais ocidentais é algo presente no seu cotidiano e nas suas tradições. É o caso da ayahuasca - muito conhecida no Brasil e em outros países amazônicos -, da iboga (presente na floresta africana, sobretudo no Gabão) e do peyote (cacto nativo do México). Também estão sendo pesquisadas substâncias como a psilocibina, presente em alguns cogumelos e o MDMA (substância sintética, usada em festas sob o nome de "ecstasy").


Embora algumas pessoas façam uso recreativo dessas substâncias, ou por curiosidade, isso pode ser extremamente perigoso. Além da questão da procedência e da pureza da substância, que são questionáveis nesses casos, a principal razão é que o poder curativo dessas substâncias está na sua capacidade de trazer à consciência conteúdos inconscientes que precisam ser processados, e alguns deles podem ser difíceis e requerem o acompanhamento de um profissional capacitado. Quando emergem em contextos recreativos, são rotulados como "bad trips" e costumam gerar alarme na pessoa que os experiencia e nas que estão ao redor. Via de regra, a conduta nesses casos por essas pessoas (leigas) é inteiramente equivocada. Daí a importância de se fazer uso de substâncias psicodélicas apenas em contextos preparados e controlados. Podemos pensar nessas substâncias como um bisturi. Nas mãos de um profissional capacitado, podem realizar procedimentos extremamente curativos. Nas mãos erradas, podem causar sérios estragos. E, da mesma forma como não são feitas cirurgias na rua, ou em uma festa, deve-se evitar consumir psicodélicos em qualquer lugar. Por isso, os princípios mais importantes para uma experiência segura com psicodélicos são set e setting. "Set" seria a intenção de quem vai tomar a substância e "setting" seria o ambiente, que inclui tanto o local físico quanto o(s) facilitador(es).


Uma experiência psicodélica bem conduzida tem pelo menos três etapas: 1- preparação; 2- a sessão psicodélica com set e setting adequados; 3- integração. A etapa de preparação pode abranger dias ou até semanas antes da sessão. Depende da substância e do contexto em que será tomada. Geralmente envolve "detox" alimentar e de algumas substâncias, além de definição do propósito individual para a experiência. A segunda etapa corresponde à sessão propriamente dita, que pode ser única ou múltipla, em mais de um dia. O ambiente pode variar, desde clínicas e consultórios a cerimônias realizadas de acordo com certas tradições xamânicas. A última etapa, a integração, nem sempre é realizada, mesmo sendo de grande importância. É o período em que a pessoa vai processar e integrar os conteúdos inconscientes que vieram à tona durante a sessão. Esse processo é totalmente individual, e sua duração é variável. Normalmente é assistida por um profissional capacitado, que pode ser o próprio psicoterapeuta da pessoa. Embora essas substâncias estejam sendo pesquisadas a fundo por profissionais qualificados, o uso da maior parte delas ainda não é permitido em um contexto profissional no Brasil. Algumas delas, como a ayahuasca, iboga e psilocibina (cogumelos), podem ser encontradas basicamente em contextos cerimoniais.


Embora tenham sido estigmatizadas no passado, as substâncias psicodélicas estão sendo vistas como poderosos agentes de cura. Isso não significa que seu uso não tenha riscos. Ele precisa ser feito com cautela e por pessoas capacitadas. De todo modo, é consenso entre os especialistas que os benefícios excedem, em muito, os riscos, tornando esse recurso sinônimo de grande esperança para muitas pessoas que não tinham mais nenhuma.

 
 

Thassio Queiroz de Araújo       CRP 01 - 21750        (61) 9633 0368

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