top of page
Buscar

Ejaculação precoce e disfunção erétil: o papel da ansiedade de performance.

  • Foto do escritor: Thassio Queiroz
    Thassio Queiroz
  • 15 de jul. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 9 de out. de 2023


ree

A ejaculação precoce e a disfunção erétil estão entre os problemas sexuais mais comuns entre os homens, e comprometem significativamente a vida sexual de quem convive com eles. No caso de quem sofre de ejaculação precoce, é muito comum a ocorrência associada de disfunção erétil. Existem diversas causas possíveis para esses problemas, que podem ser anatômicas, fisiológicas, metabólicas e psicológicas. Dentre os fatores psicológicos, estão incluídos alguns transtornos que não são propriamente de ordem sexual, mas repercutem, de diferentes maneiras, na sexualidade. A depressão, por exemplo, pode acarretar uma diminuição do desejo sexual, que pode levar a dificuldades de ereção. Às vezes, é a medicação antidepressiva que provoca uma queda mais significativa no desejo sexual. A ansiedade também é comumente apontada como um fator envolvido tanto na ejaculação precoce quanto na disfunção erétil.


Existe um tipo específico de ansiedade que está intimamente ligado a esses problemas, a chamada ansiedade de performance sexual. Trata-se de uma preocupação excessiva com o desempenho sexual, que antecede e/ou acompanha a relação sexual. O sexo, assim, torna-se uma experiência incômoda e estressante, perdendo grande parte do seu caráter espontâneo e prazeroso. Quem sofre dessa preocupação tende a tirar o foco da relação sexual em si e coloca-lo quase que exclusivamente na performance sexual, sobretudo quem já teve experiências de ejaculação precoce ou disfunção erétil. Nestes casos, a ansiedade de performance acaba tendo um efeito contrário ao que ela se propõe: se ela busca assegurar que essas experiências passadas desagradáveis não se repitam, ela acaba favorecendo a sua ocorrência devido ao estresse a que o indivíduo fica submetido. Assim, o problema se retroalimenta: a ansiedade conduz a uma relação frustrante, que aumenta a ansiedade sobre a próxima relação, que tem maiores chances de ser frustrante, e assim por diante.


Mas o que faz com que alguém sinta ansiedade de performance sexual? Existem vários fatores que podem contribuir para isso, como o medo de não satisfazer a outra pessoa, problemas de autoimagem, medo de decepcionar e experiências sexuais passadas frustrantes. Esses fatores, via de regra, têm relação com a cultura e com os discursos populares sobre o sexo. Na nossa cultura, o sexo é fortemente centralizado no pênis e na penetração. Portanto, quem desempenha o papel de penetrar na relação pode sentir sobre si uma grande expectativa (muitas vezes, vinda de si mesmo) sobre seu desempenho, e frequentemente acredita que é o principal responsável pela condução da relação e pelo prazer da outra pessoa. Há, também, uma estreita associação entre o pênis e o desempenho sexual com potência, virilidade e o valor do homem. Por fim, não se pode negligenciar o papel da pornografia enquanto uma das principais referências sobre o sexo, sobretudo para os homens. Muitos tomam a pornografia como modelo e se cobram um desempenho semelhante ao que veem nos filmes eróticos, por vezes irreais. (Leia mais sobre o assunto no seguinte artigo: Vício em pornografia I)


É importante considerar que episódios de ejaculação precoce ou disfunção erétil podem ocorrer ocasionalmente com qualquer homem. Quem sofre de um desses problemas de maneira recorrente pode acreditar que eles nunca deveriam acontecer e se tornar hipervigilante sobre eles, sentindo-se frustrado toda vez que eles ocorrem, mesmo quando ocorreriam com a maioria dos homens em circunstâncias semelhantes. Desse modo, podemos perceber que a ansiedade de performance sexual só agrava o problema de quem sofre de ejaculação precoce ou disfunção erétil. Ela pressupõe que esses fenômenos nunca poderiam ocorrer. Por isso, a fim de reduzir essa ansiedade, é necessário, paradoxalmente, se permitir correr o risco de que eles ocorram. Só assim é possível relaxar. E o relaxamento contribui para que a relação seja mais bem-sucedida, ao passo que quem está constantemente preocupado em evitar a ocorrência da ejaculação precoce ou da disfunção erétil está colaborando, sem saber, para que elas ocorram. E afinal, o que haveria de tão grave nessa possibilidade que muitos tentam evitar a todo custo? O que justifica a profunda vergonha que tantos sentem nessas horas? É fundamental investigar o que cada um pensa a respeito, bem como a relação que se estabelece entre o próprio desempenho sexual e o seu valor enquanto pessoa. É válido, ainda, questionar-se se as expectativas em torno do sexo não seriam muito altas ou irreais. Afinal, o sexo deve ser um exercício de prazer, liberdade e espontaneidade, o que é incompatível com cobranças e ansiedade.

 
 

Thassio Queiroz de Araújo       CRP 01 - 21750        (61) 9633 0368

bottom of page