Vício em pornografia I
- Thassio Queiroz
- 6 de out. de 2023
- 3 min de leitura

O advento da internet remodelou significativamente a sociedade, trazendo uma gama de atividades inéditas e proporcionando uma nova modalidade de atividades já existentes. Dentre elas, algumas revelaram um enorme potencial para adição (vício), como jogos, compras e pornografia. Neste artigo, trataremos especificamente da pornografia, devido à frequência com que esse tema tem aparecido na mídia e no consultório. A pornografia não surgiu com a internet, nem existe exclusivamente nela, mas é indiscutível que é na internet onde existe a maior oferta e o maior consumo de pornografia atualmente, e a pornografia “offline” se tornou obsoleta.
O consumo da pornografia se tornou comum ao ponto de deixar de ser um tabu, assim como a masturbação também deixou de ser. Entre os chamados “nativos digitais” (pessoas que nasceram quando o acesso à internet já era difundido), é comum que a pornografia virtual seja a “porta de entrada” da vida sexual, e isso se tornou relativamente aceito, ou tido como inevitável. Se quase todo adolescente tem acesso à internet hoje, então quase todo adolescente tem acesso fácil à pornografia, e um grande número deles faz uso dessa facilidade. Uma das principais críticas sobre esse consumo precoce de pornografia tem a ver com o estabelecimento de padrões irreais, tanto físicos quanto de performance, que se procura repetir nas relações reais, não raro conduzindo a ansiedade e frustrações. Não se pode esquecer que a pornografia é uma indústria, que vende uma mercadoria, que, como tal, é cuidadosamente formatada para satisfazer o gosto do público. Se o objetivo é vender (e não educar sobre sexo, por exemplo), é preciso apresentar um produto sedutor para o público, ou seja, “fisga-lo”. Mesmo a pornografia caseira, muitas vezes, procura seguir padrões da indústria pornográfica.
Por se tratar de uma questão complexa, não há um consenso sobre quando o consumo de pornografia (ou a prática da masturbação, associada ou não à pornografia) pode ser considerado um problema, mas, em alguns casos, é fácil identificar que ela é, devido aos prejuízos que acarreta. O vício em pornografia é mais frequente em homens, sendo comumente tido como um problema masculino. Isso certamente é favorecido pelo fato de que a nossa cultura é muito mais indulgente com a masturbação masculina do que com a feminina, de modo que a relação dos homens com essa prática é muito mais livre do que a das mulheres, cuja sexualidade, historicamente, é alvo de forte repressão. Via de regra, os homens se valem da masturbação como forma de aliviar o desejo sexual, principalmente na impossibilidade de uma relação sexual com outra pessoa naquele momento, de explorar fantasias e também como um ansiolítico ou um relaxante naturais, em momentos de ansiedade e estresse.
Já temos, até agora, pelo menos dois elementos que dão à pornografia (considerando que seu consumo está associado à masturbação) um potencial aditivo: os recursos apelativos da indústria pornográfica e o efeito relaxante e prazeroso da prática masturbatória. Alguns pesquisadores destacam, ainda, três outros elementos: o fácil acesso, o baixo custo e o anonimato. A pornografia pode ser consumida a qualquer momento, em qualquer lugar, praticamente de graça, e sem que ninguém precise saber. Soma-se a isso a inesgotável novidade de estímulos que a pornografia oferece, pois há muito mais material pornográfico do que alguém poderia consumir em vida. Porém, há outros fatores que precisam ser considerados. Leia a segunda parte do artigo aqui: Vício em pornografia II.