É vantajoso enganarmos a nós mesmos?
- Thassio Queiroz
- 27 de jun. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de out. de 2023

A mentira é extremamente comum no cotidiano. Muitas não são consideradas problemáticas, e costumam ter o intuito de poupar o falante de uma exposição indesejada, evitar prejuízos ou confronto. Um estudo afirma que, em uma conversa de 10 minutos, uma pessoa conta em torno de 3 mentiras. Em muitas situações sociais, as mentiras são até esperadas: ser totalmente sincero pode incomodar, e até chegar a soar ofensivo. É o que acontece com as crianças. Quando ainda não estão totalmente inseridas nos códigos sociais, elas tendem a falar o que pensam, o que frequentemente é embaraçoso para os pais, pois muitas vezes se trata de opiniões que os adultos omitiriam ou distorceriam, a fim de evitar justamente o constrangimento que a opinião sincera dessas crianças provoca. Assim, somos educados, desde crianças, a não sermos totalmente sinceros.
Na terapia (e, sobretudo em uma análise), devemos fazer o caminho inverso. Ela exige que abandonemos as convenções sociais e adotemos a sinceridade total. Não apenas com o terapeuta, mas, sobretudo, conosco mesmos. Afinal, não gostamos de confessar quem realmente somos porque há muita coisa em nós que consideramos reprováveis, e temos dificuldade em lidar com nosso lado “negativo”, em parte devido à educação que recebemos. Como diz J M Storm, "Como é estranho que muito do que não é dito não seja dito por ser a verdade!"
O psicanalista brasileiro Renato Mezan diz que “A Psicanálise pode ser tudo, menos complacente com nosso profundo desejo de iludirmos a nós mesmos.” Assim, a Psicanálise propõe o desafio de abandonarmos as mentiras que costumamos contar a nós mesmos, a fim de lidarmos com as coisas como realmente são – e conosco, como realmente somos. Ela nos convida, portanto, a nos confrontarmos da forma mais honesta possível. Desse modo, podemos descobrir porque mentimos para nós mesmos, e se há alguma razão para continuarmos tentando nos enganar. A partir desse processo, podemos nos aceitar como realmente somos, e descobriremos que pode haver muita liberdade quando decidimos ser sinceros conosco mesmos. Um bom começo é adotar a postura sugerida por James Ng'uni: "Se a verdade te deixa desconfortável, não culpe a verdade; culpe a mentira que te deixou confortável."