O que preciso saber para fazer terapia?
- Thassio Queiroz
- 26 de jun. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 25 de ago. de 2024

Embora a psicoterapia tenha se popularizado muito nos últimos anos, o que demonstra um reconhecimento crescente da importância de se cuidar da saúde mental, nem todo mundo já teve essa experiência. Para quem nunca fez terapia, mas está se propondo a iniciar uma, ou mesmo para quem já fez (ou faz), algumas informações básicas podem ser úteis para se compreender o funcionamento desse processo e ter um maior aproveitamento dele.
Em primeiro lugar, é importante saber que a terapia é um tratamento especializado, conduzido por um profissional capacitado, para diversos tipos de questões, como conflitos pessoais ou interpessoais e o adoecimento psíquico (depressão, ansiedade, dependências, etc.). Não pode ser confundida, portanto, com uma mera conversa ou "desabafo", ainda que o simples ato de falar já possa trazer alívio. Por esse motivo, um amigo não substitui um psicólogo quando uma pessoa precisa de um acompanhamento profissional. Na terapia, o(a) paciente vai para falar de si. Ele(a) é o assunto. Obviamente, também fala das pessoas com quem convive e da sociedade em que está inserido. Mas o foco é como isso tudo o(a) afeta. E como escolher o que falar? Na verdade, o ideal é não escolher. O melhor assunto para a terapia é aquele que está nos seus pensamentos no momento da sessão. Mesmo que não pareça relevante. Ao falar desse pensamento, outros começam a surgir na sequência, trazendo informações que acabarão por se mostrar úteis. Assim, toda informação sobre o(a) paciente pode ser importante, mesmo as que parecem não ser, ou que parecem não ter nada a ver com a queixa do(a) paciente. Às vezes, um detalhe "irrelevante" ou um acontecimento aparentemente insignificante podem ser cruciais. Por isso, é importante não omitir nada do que lhe ocorrer durante a sessão, nem restringir a fala a alguns temas.
A terapia funciona a partir da fala. É por meio da fala do(a) paciente que o terapeuta passa a conhecer mais sobre o seu universo pessoal, e, assim, tem mais elementos para compreender o que o(a) aflige e para ajuda-lo. O terapeuta precisa ganhar intimidade com esse universo. É o(a) paciente que possibilita esse acesso, compartilhando tudo o que diz respeito a si: pensamentos, sonhos, sentimentos, desejos, fantasias, seu dia-a-dia, sua história, seus gostos e impressões... em suma, tudo aquilo que faz do(a) paciente quem ele(a) é. Quanto melhor o terapeuta souber sobre o(a) paciente, mais recursos terá para ajuda-lo(a). É fundamental que o(a) paciente possa se expressar livremente na terapia, e que saiba que esse é um ambiente seguro para tal. O terapeuta está lá para ouvi-lo(a), sem julgamentos, em tudo que ele(a) tiver para falar, inclusive naquilo que é mais difícil de expor, ou mesmo "inconfessável". Por isso, outro elemento fundamental da terapia é o sigilo. O que é dito em sessão é mantido entre terapeuta e paciente. É um espaço para se ser sincero, sobretudo, consigo mesmo.
Embora o terapeuta precise fazer muitas perguntas para facilitar o andamento do tratamento, não se trata de uma entrevista. O(a) paciente não deve simplesmente responder ao que lhe foi perguntado, e pode até mesmo não saber a resposta (mas a pergunta é o início da busca por uma!). Também não há certo ou errado. O que a pergunta se propõe a fazer é mobilizar a fala do(a) paciente, de modo que ele se ponha a pensar sobre o que foi perguntado (a menos que a pergunta seja muito objetiva, como sobre uma data, profissão, um local ou o nome de uma pessoa), e verbalize tais pensamentos - ainda que isso se desvie da resposta. A pergunta é apenas um mote. É fundamental desenvolver, o máximo possível, o tema que foi perguntado.
Ao iniciar uma psicoterapia, é importante estar advertido de um componente que quase sempre acompanha esse processo: a resistência. Ela consiste em uma tendência a evitar a mudança. Por mais paradoxal que pareça, queremos mudar, mas algo em nós pode não querer essa mudança, pois ela ameaça alguma satisfação ou vantagem que obtemos do nosso sofrimento, ou tememos que encarar alguns sentimentos seja doloroso. A resistência pode se manifestar de diversas maneiras, como achar que a terapia não é necessária, ou que não vai ajudar; faltar ou se atrasar para as sessões, ou esquecer delas; ficar sem assunto; falar de temas que não têm a ver consigo mesmo ou "encher linguiça" durante o tempo da sessão; querer desistir da terapia e buscar pretextos para isso (Ex: "Já estou melhor", "Estou com muitas despesas e não posso arcar com a terapia", etc.); não se esforçar para encontrar um horário para as sessões quando se tem pouco tempo... A lista é grande. Porém, é fundamental não ceder à resistência, por mais que isso seja desafiador, sob pena de se manter estagnado no mesmo ponto.
Existem diferentes formas de se proceder em uma psicoterapia, que são decorrentes de diferentes correntes teóricas da Psicologia, e são chamadas de abordagens. Cada abordagem, portanto, parte de uma teoria e de um método próprios. A direção do tratamento varia, assim, de acordo com cada abordagem, mas todas são eficazes. Todavia, uma ou outra abordagem pode ser mais indicada para determinada questão ou pessoa. Uma avaliação feita por um profissional pode ajudar nessa escolha. Não é raro que alguém faça terapia em uma abordagem por algum tempo e se beneficie dela, mas sinta necessidade de experimentar outra abordagem em outro momento.
Uma sessão de terapia dura em torno de 50 minutos. Ela pode acontecer em um consultório ou de forma remota (online). Ambas as modalidades são eficazes, mas algumas pessoas podem ter preferência por uma modalidade ou pela outra. A frequência das sessões costuma ser de uma vez por semana. Em alguns casos, pode-se combinar uma frequência maior. A assiduidade é importante para o progresso do tratamento. O paciente que não se compromete ou falta muito está prolongando e retardando seu processo de cura.
Por fim, é importante ressaltar que a terapia é uma espécie de "jornada pessoal assistida". Iniciar uma terapia significa se abrir para um processo de autoinvestigação. No fim das contas, as principais respostas que o(a) paciente procura estão nele(a) mesmo(a). Ele(a) precisa apenas aprender a busca-las (a imagem deste post é bastante ilustrativa desse processo). O paciente fala, também, para que ele mesmo se escute. Já o terapeuta está lá para ouvir, acolher e auxiliar, mas não pode agir pelo(a) paciente. E é melhor que seja assim. Afinal, o objetivo da terapia não é estabelecer uma relação de dependência. Muito pelo contrário: o objetivo da terapia é que o(a) paciente não precise mais de terapia. E, para isso, ele(a) precisa estar disposto a assumir o protagonismo pela sua própria vida. É algo desafiador, mas, certamente, também recompensador.